quinta-feira, 23 de maio de 2013

Aperfeiçoamento (Requisitos)


      Veremos agora certos pontos básicos para que possamos desenvolver o aperfeiçoamento. Para termos uma melhor visão, vamos fazer uma comparação com algo material e conhecido.

      Por exemplo, se eu tenho uma casa não muito boa, desejo aperfeiçoá-la. Se eu a considerasse como uma ótima casa, estaria satisfeito com ela e não pensaria em mudá-la, mesmo que outras pessoas dissessem o contrário. Mas eu quero realmente aperfeiçoar a casa, pois me serviria melhor, seria mais útil, mais segura, etc.

      Após este primeiro ponto estar bem determinado, o próximo seria um conhecimento, o mais exato possível, da casa, como está constituída, para descobrir o que deve e pode ser modificado. Um conhecimento superficial não é o bastante, é necessário um estudo profundo antes de qualquer modificação. Caso contrário, poderia mudar o que não deve ser mudado e ficaria pior do que antes.

      O terceiro ponto seria projetar um modelo daquilo que quero com a reforma da minha casa antiga.

      O quarto ponto seria o planejamento completo para reunir todos os meios e recursos necessários à reforma da casa.

      O quinto e último ponto seria trabalhar com constância para que a obra se realize e não passe apenas de um sonho.

      No exemplo da casa já notamos a presença destes requisitos fundamentais ao aperfeiçoamento:

      1. Querer verdadeiramente o aperfeiçoamento;

      2. Conhecer com profundidade o que deve ser aperfeiçoado.

      3. Idealizar um modelo como alvo do aperfeiçoamento.

      4. Planejar e reunir meios e condições favoráveis ao redor do que deve ser aperfeiçoado.

      5. Trabalhar com dedicação e perseverança.

      Agora, vamos aplicar cada um desses pontos, focalizando a Aperfeiçoamento do Ser Humano.

      Se alguém está plenamente feliz consigo mesmo, com sua maneira de ser, de sentir e de pensar, o máximo que pode fazer é sonhar com um auto-aperfeiçoamento e nada mais. Talvez alguma fraca tentativa seja feita para justificar-se a si mesmo, mas sabe que nada vai acontecer, pois não há um verdadeiro querer de auto-aperfeiçoamento. Sem este primeiro passo fundamental, toda teoria que tivermos acumulada, todo estudo, por mais profundo que seja, não passará de um passatempo intelectual e vazio.

      Portanto, é indispensável para o auto-aperfeiçoamento, que se eliminem primeiro todas as barreiras e condicionamentos que bloqueiam o verdadeiro querer. Sem isso, jamais teremos a motivação necessária para fazer um trabalho sério em nós mesmos. Toda tentativa já estará condenada ao fracasso, pois falta a base sólida de uma vontade firme de transformação.

      Mas, como se pode desenvolver uma forte vontade de transformação, de auto-aperfeiçoamento? Como criar esse impulso inicial e indispensável sem o qual nada é  possível? Aqui já começamos a perceber a importância daquele segundo ponto básico já visto: conhecer com profundidade o que deve ser aperfeiçoado. É necessário que eu me conheça como eu sou agora, para saber o que pode ser aperfeiçoado. É um trabalho de auto-análise imparcial, com detalhes os mais exatos possíveis. Sem esses conhecimentos correria o risco de piorar e não melhorar. Cabe aqui uma explicação: o conhecimento que aqui se refere não é o de nossa personalidade superficial, aparente – um nome, uma condição social, meus recursos intelectuais e financeiros, a aparência ou impressão provocada no exterior, o conceito de familiares e amigos. Tudo isso são efeitos indiretos, superficiais e variáveis. Não se trata de conhecer os efeitos produzidos no exterior, mas sim as causas que geram esses efeitos. Essas causas se encontram dentro e não fora. Esse conhecimento profundo também não se refere ao Eu Superior e Eterno. É muito bom termos essa convicção como estímulo ao aperfeiçoamento, mas é muito mais importante conhecermos, em primeiro lugar, o que nos é mais familiar e pode ser notado a todo instante, o que está mais à mão.

      É muito lógico que, se ainda a criatura não se conhece nas formas mais simples de si mesma, como poderá saltar diretamente para outras formas muito mais complexas e refinadas? Se neste plano em que estamos nós manipulamos e contatamos diretamente muito mais com nossos corpos físico, emocional e mental, é por essa razão que temos que conhecer esses corpos, aprender a usá-los e aperfeiçoá-los. Se já tivéssemos feito tudo isso com perfeição, não estaríamos sempre envolvidos em circunstâncias onde há predominância do físico, do mental e do emocional. Se um aluno está em uma escola primária, ele estará sempre rodeado de ensinamentos primários; poderá ouvir falar que existe o ensino superior, como incentivo ao estudo, mas enquanto não aprender a utilizar com perfeição os recursos que tem em mãos, não receberá outros ensinamentos superiores. Existe uma perfeição absoluta em tudo o que existe, mas está muito além de nossa capacidade de perceber. Portanto, não podemos rejeitar coisa alguma, senão seremos alunos rebeldes e voltaremos sempre até aprendermos o que é necessário.

      Como então o ser humano, que quer aperfeiçoar-se, pode se conhecer melhor? A teosofia ensina que temos sete corpos, sendo que os três primeiros são: um corpo físico, um corpo emocional ou astral e um corpo mental concreto ou inferior. São esses que nos são mais familiares e com os quais estamos em mais contato, portanto temos que conhecê-los muito bem em primeiro lugar.

      Sobre nosso corpo físico já temos muitos dados e informações pelas pesquisas científicas. Mas a ciência vê o corpo físico como uma causa, a origem dos outros corpos, por isso existem muitos vazios sem explicação científica. Os ensinamentos teosóficos ensinam que o corpo que temos é apenas um efeito, uma conseqüência. É a manifestação material mais densa de corpos mais refinados e superiores. É o nosso instrumento material através do qual podemos nos manifestar neste mundo material. É sob este ângulo que devemos conhecer nossos corpos físico, emocional e mental. São instrumentos através dos quais nós, seres espirituais, nos manifestamos e atuamos neste plano material. Apesar destes corpos estarem interligados entre si, existe uma hierarquia entre eles: o físico é o mais denso e inferior, o emocional ou astral é superior ao físico, e o mental concreto ou mental inferior, está acima deles.

      Podemos, através de livros, ter conhecimentos muito úteis sobre esses três corpos, mas isso é apenas um início, é necessário expandir esse conhecimento em nós mesmos, cada um em si mesmo. O objetivo é o aperfeiçoamento de cada um consigo mesmo. Esse trabalho de se conhecer é individual de cada um de nós. Não existe um padrão único de atividades nestes três corpos, principalmente no emocional e no mental. Eles variam de uma pessoa para outra e em cada ocasião reagem de modos diferentes. Portanto, só cada um pode observar a si mesmo e se conhecer melhor. Ninguém pode fazer esse trabalho melhor do que nós mesmos. E é só através desse conhecimento próprio que saberemos como nos aperfeiçoar. Examinando, comparando e discernindo tudo o que sentimos e pensamos, só assim saberemos o que deve ser corrigido e aperfeiçoado.

      Somente a partir desse conhecimento de nós mesmos, sabendo de tudo que se passa dentro de nós, nossas reações, etc., é que começamos a idealizar um modelo mais aperfeiçoado de nós mesmos. E este é o terceiro requisito fundamental ao auto-aperfeiçoamento.
 
Texto de Iran Kirchner
 Foto ilustrativa

quinta-feira, 16 de maio de 2013

AMOR – A primeira e a maior de todas as forças


     Um texto da escritora Eva Pierrakos, autora do livro “O Caminho da Autotransformação” caiu-me nas mãos e passo a transcrevê-lo.
     “Se os sentimentos são tolhidos, o amor não pode crescer.

     Não considerando a religião, a filosofia ou a doutrina que sigam, todos vocês sabem que o amor é a primeira e a maior de todas as forças. Em última análise é a força única. Mas a verdade é a seguinte: como você pode amar se não se permite sentir?

     Isso significa permanecer não envolvido pessoalmente, não arriscando o sofrimento, a decepção e o envolvimento pessoal. Você pode amar de modo tão cômodo? Se você deixar dormente a sua faculdade de sentir, como pode verdadeiramente experimentar o amor? O amor é um processo intelectual? Ou é um sentimento que brota do fundo da alma, um ardor de impacto que flui e que não pode deixá-lo indiferente e intocado? Não é ele, antes de mais nada, um sentimento e não é só depois que o sentimento é plenamente vivenciado e expresso que dele resultará a sabedoria, e talvez mesmo a percepção intuitiva?

     Como você espera chegar à espiritualidade – e espiritualidade e amor são uma só coisa – não dando atenção a seus processos emocionais? Você que agora segue este caminho e faz o que é tão necessário irá inicialmente experimentar uma avalanche de sentimentos negativos. Mas depois que esses tiverem sido adequadamente compreendidos e tiverem amadurecido, sentimentos construtivos desenvolver-se-ão. Você sentirá o ardor, a compaixão e o envolvimento bom como nunca imaginou ser possível. Não se sentirá mais isolado. Começará a relacionar-se com os outros na verdade e na realidade, não na falsidade e no auto-engano. Quando isto acontecer, uma nova segurança e respeito por você mesmo se tornará parte de você. Você começará a confiar e a gostar de si mesmo.” 

     Esse inspirado texto de Eva Pirrakos nos faz parar e analisar. Ele nos mostra que a superficialidade de sentimentos ou a couraça que muitas vezes nos colocamos, com a intenção de “não sofrermos”, nos coloca à margem de todo um processo de amar. Será que vale a pena não sofrer, nos entrincheirando, nos isolando para não sermos atingidos pelas vicissitudes da vida?Pode ser que não sejamos machucados, mas por certo não experimentaremos esse sentimento único, o maior de todos – o amor pleno e desinteressado, o amor incondicional, o amor universal.

     Para que possamos realmente experimentar a plenitude desse amor universal é preciso que nos dispamos de todas as nossas armaduras, que nos coloquemos em atitude receptiva diante da vida. Muitas vezes nossa atitude é de pessimismo, negativismo. Não nos lembramos de agradecer, de abrir nosso coração para as experiências, para os sentimentos. O sofrimento faz parte de todo esse processo. Não podemos ter medo de sofrer. Só damos valor àquilo que recebemos de bom da vida, se conhecermos o outro lado. Ninguém sabe o que é a luz, se permanecer eternamente nas trevas, pois estas nada mais são do que a ausência da luz.

     Vamos dar uma oportunidade à vida? Vamos nos colocar sem couraças e barreiras para aprender realmente o significado do amor universal, essa primeira e maior de todas as forças?
 
Texto de Cecy Kirchner
Foto Ilustrativa

segunda-feira, 6 de maio de 2013

O Aperfeiçoamento (A natureza e o rio)


      Se analisarmos tudo o que nos rodeia, mesmo nos reinos mineral, vegetal e animal, notaremos que nada está inativo. Mesmo as pedras se transformam, e estão em atividade constante. Nos vegetais, já esta atividade é mais intensa do que nos minerais. Nos animais, desde os mais microscópicos, nota-se uma atividade ainda muito mais intensa.

      Toda a atividade observada na matéria produz modificações, produz transformações. Essas transformações que ocorrem com todas as coisas sucedem-se continuamente e orientam-se sempre numa mesma direção, num mesmo sentido, procuram sempre o APERFEIÇOAMENTO.

      Portanto, o Aperfeiçoamento é uma constante em todas as coisas, desde um minúsculo grão de areia até as formas mais complexas de vida. Nada contraria esta constante Universal, que se impõe de várias maneiras e em todos os sentidos possíveis.

      O Ser Humano não é uma exceção a essa norma, muito pelo contrário. Sendo ainda mais complexo em sua composição, qualidades e faculdades, tem atividades maiores. Essas atividades produzem transformações também maiores e, conseqüentemente, essas modificações constantes e contínuas levam todos nós, seres humanos, para um Aperfeiçoamento muito maior. Mesmo que queiramos resistir ao Aperfeiçoamento, seremos sempre arrastados para frente, muitas vezes indiretamente, em ziguezague e de formas dolorosas, mas iremos infalivelmente.

      Para termos uma melhor visão desta Constante Universal de Aperfeiçoamento, poderemos imaginá-la como a Grande Corrente de um imenso Rio. Todas as formas de vida estão contidas nesse Rio colossal e por ele são levadas num contínuo movimento, sempre em atividade, em constantes transformações, em uma obra de aperfeiçoamento contínuo. Nós, criaturas humanas, também estamos dentro dessa correnteza e, independente de sabermos disso ou não, estamos constantemente sendo levados por ela.

      Vamos agora analisar as diferentes maneiras de comportamento do ser humano dentro dessa corrente. Os vários modos de reação e de comportamento das pessoas vão depender diretamente do estado evolutivo de cada uma delas, do grau de esclarecimento espiritual, enfim, cada criatura reage conforme a bagagem de valores que acumulou nesta encarnação e nas anteriores.

      Para simplificar, vamos nos limitar a apenas três maneiras diferentes de comportamento.

      O primeiro tipo é a reação ao aperfeiçoamento. A pessoa pouco sabe sobre si mesma e não entende onde está e o porquê das transformações constantes provocadas por atividades diversas e incessantes da vida. Essa pessoa, por desconhecer esta constante de aperfeiçoamento que existe, reage instintivamente a qualquer mudança no seu estado de ser. Ela tem receio do que possa lhe acontecer se deixar de ser aquilo que é. Ela gosta de si mesma como pessoa física, acima de todas as coisas. Portanto, não quer modificar-se.

      Na criação manifestada, na matéria, existem três gunas, ou três qualidades ou atributos, chamados em sânscrito de Tamas, Rajas e Sattva. Ou seja, inércia – movimento (ação) – equilíbrio (sabedoria). Quando a qualidade tamásica predomina na criatura, ela se predispõe mais à inércia, à apatia, à confusão, à ignorância e ao erro. Poderíamos então considerar neste primeiro caso o comportamento de uma criatura tamásica com relação a esta grande corrente de aperfeiçoamento. Já podemos concluir o tremendo atrito que pessoas assim sentem pela oposição contra essa corrente. Comparativamente, podemos dizer que é como se realmente estivéssemos flutuando dentro de um grande rio, juntamente com muitas outras pessoas. Qualquer de nós que tentar se opor ao movimento normal das águas, se cansaria inutilmente e seria fatalmente abalroado constantemente por tudo que navega no sentido das águas. Realmente, as condições de uma criatura com esse comportamento são bastante deploráveis e penosas, pois é como se o mundo estivesse desabando sobre ela. Onde quer que se encontre, ali estará também o atrito, a desarmonia e a confusão, como se fossem mensagens de alerta que tentassem avisar-lhe de que algo está errado consigo, que precisa verificar o rumo que segue pois não chegará a lugar algum reagindo teimosamente contra as transformações de aperfeiçoamento. Haverá sempre desilusões e fracassos pelo emprego de suas forças em sentido contrário a todas as normas de aprimoramento e evolução. Existem algumas características marcantes nas criaturas deste nosso primeiro caso: o derrotismo pessimista e sombrio, a inércia, a irritação constante, a crítica destrutiva contra tudo, atitude hostil e defensiva contra qualquer coisa. Se existe inferno, este tipo de pessoa traz dentro de si mesma um verdadeiro inferno e, conseqüentemente, transborda para fora tudo aqui que sente. É impossível contar e tentar fingir o contrário. Um copo com mel só pode deixar transbordar mel e um copo com vinagre, somente vinagre. É impossível acontecer o contrário.

      Esse então seria o primeiro tipo de comportamento dentro da Grande Corrente de Aperfeiçoamento e Evolução: reação constante, falta de conhecimento de si mesmo e das sábias Leis Divinas ensinadas pelos Mestres.

      Vamos agora passar para o segundo tipo de comportamento. Neste tipo predomina a qualidade Rajas, que é uma das três gunas ou atributos que já citamos. É a qualidade de movimento, de ação, de luta, de paixão desenfreada. Esse tipo de criaturas não reage à atividade e às transformações como as do primeiro caso. Elas já percebem vagamente a correnteza do Grande Rio que as envolve, mas pouco sabem da finalidade dessa corrente. E como ignoram essa constante de aperfeiçoamento, apesar de ativas e de estarem sempre se transformando, elas não sabem dirigir suas ações e movimentos em harmonia com o sentido da corrente, ou seja, do aperfeiçoamento.

      Devido a essa atividade desordenada, sem perceberem o objetivo das várias transformações, as criaturas com esse comportamento também reagem indiretamente ao sentido da corrente. Suas forças são mal dirigidas e provocam modificações desnecessárias ao sentido do aperfeiçoamento. Mas, apesar disso, elas colhem algum benefício, pois mesmo que naveguem em ziguezague dentro do rio, vão aos poucos corrigindo o rumo de suas ações e objetivos, errando sempre menos pelas experiências infelizes do passado. Esse tipo abrange a maioria das pessoas.

      O terceiro e último tipo de comportamento tem como característica principal um acentuado desenvolvimento de equilíbrio e sabedoria, ou seja, a guna chamada Sattva seria predominante neste tipo. É difícil para nós tentar entender e descrever essa classe de seres pois estão em um nível bem acima de nós, seres humanos comuns, que somos mais afetados por Rajas, ação desmedida e apaixonada, sem equilíbrio e sabedoria.

      Vamos imaginar as criaturas deste nosso terceiro caso também flutuando nesse Rio simbólico e sendo levadas pelas suas águas. Elas não estariam reagindo ao sentido da corrente como aqueles do primeiro caso. E nem, tampouco, desperdiçariam inutilmente suas forças em rumos diferentes no sentido normal da corrente, como aqueles do nosso segundo caso. Estas criaturas têm conhecimento de onde estão, percebem o Grande Rio, sua correnteza, suas normas ou leis e sabem da razão de sua existência, que é conduzir tudo que existe em constante aperfeiçoamento. A Sabedoria que estes seres têm e praticam, junto com o equilíbrio e a lucidez, faz com que naveguem com segurança e rapidez neste rio. A angústia e a dúvida já não existem mais para eles, pois não oferecem resistência às leis, mas procuram cumpri-las para se aperfeiçoarem cada vez mais. Sabem sempre enfrentar todos os obstáculos de jornada com confiança e serenidade e aproveitam todas as experiências e os novos conhecimentos que encontram em benefício próprio e de outros.

      São pessoas abnegadas e altruístas, que dedicam toda sua vida aos seus semelhantes e a ideais elevados.
 
Texto de Iran Kirchner
Foto ilustrativa