quarta-feira, 22 de julho de 2015

A grande ilusão (Parte II)


A história da cobra da ilusão demonstra como a verdade pode ser coberta pelo poder da ilusão. Podemos aplicá-la para entender como nosso ego humano age para encobrir a realidade essencial e central que somos (/) No desenho da Ilusão do Ego vemos como nossa “realidade” individual, virtual e imaginária é formada e sustentada pelos reflexos das informações dos sentidos exteriores. A camponesa, a dona da casa, pode representar a nossa mente – ou espelho mental móvel – voltada para as aparências. Uma realidade – a corda – transformou-se em uma ilusão – a cobra. Esta falsa imagem foi projetada para fora, passando pelo corpo emocional, e movimentando a memória e comandos cerebrais para ações físicas: palavras, gestos, expressões, etc.

Foi criada, assim, uma reação em cadeia: os vizinhos da camponesa, contagiados pelos seus gritos de desespero, acreditaram na ilusão da cobra. O instinto de preservação prevaleceu sobre a lógica, o raciocínio, o discernimento.

Quantas calamidades acontecem na humanidade quando há uma reação em cadeia da mente, das emoções e ações físicas descontroladas. Por exemplo: num cinema lotado, alguém grita desesperado: FOGO. Ninguém para um instante para pensar se é fogo ou não, onde é e como fazer para resolver o problema. O instinto é ativado e o desastre acontece. Se observarmos no dia a dia notaremos nas pessoas atitudes instintivas e reativas que podem produzir efeitos em quem estiver próximo. 

Aí a necessidade da atenção e conhecimento. É o exemplo da nossa história, do marido da camponesa, que até pensou no pior pelo grande alarido, mas pelo conhecimento, venceu a resistência da maioria e com a luz da razão (o archote) entrou na casa escura (ignorância da mente) e retirou a ilusão do ego, a falsa cobra e a verdade (a corda) apareceu.

Todos nós já passamos por situações difíceis na vida por sermos envolvidos por ilusões de nossas identidades virtuais e imaginárias. O auto-conhecimento de uma identidade mais profunda e real pode revelar um mundo individual e exterior diferente do trivial, corriqueiro e sustentado pela maioria como “normal”.

Os desafios são grandes. O primeiro é conosco mesmos, procurando mover nosso espelho mental sempre focado em sensações externas, mudando-o aos poucos para focar para nosso interior, onde está nossa real identidade (?). Este trabalho pode ser facilitado pela meditação do auto-conhecimento Quem Sou Eu?
Quando nossa mente receber as primeiras luzes do Eu (?) poderemos conhecer melhor nossa casa por dentro (corpo – memória – emoções – mente) e saber como torná-la melhor e harmoniosa.

O segundo desafio é contrariar a maioria presa à ilusão do ego (os vizinhos da camponesa). São todas as pessoas com quem nos relacionamos, ainda escravizadas pela ilusão do ego e que realimentam o círculo vicioso onde a mente está sempre focadas nas sensações dos cinco sentidos. Temos que nos relacionar e investir em amizades que possam somar para que um círculo virtuoso incentive nosso auto-conhecimento para a Verdade e para a LUZ. Estudos e troca de informações ajudam muito, mas a vivência no dia a dia com atenção, concentração e reflexão é indispensável. Temos a nosso dispor o melhor campo de aprendizado do mundo: nós mesmos (ver o texto O Tesouro Oculto).

Texto de Iran Waldir Kirchner
Foto Ilustrativa 




sexta-feira, 10 de julho de 2015

A grande ilusão (Parte I)

Certo dia, ao entardecer, uma camponesa chegava à sua choupana. Ao abrir a porta e acender uma lamparina, percebeu, na penumbra, em um dos cantos, algo diferente e estranho. Apavorada, saiu rapidamente gritando:
Socorro, uma grande cobra, me ajudem!

Os vizinhos rapidamente acorreram ao chamado. Vieram armados com paus para enfrentar a grande serpente. Agitados, formaram um grupo diante da choupana, mas ninguém se atrevia a entrar. Chegou então o marido da apavorada camponesa. Pelo grande alarido, pensou no pior. Informado dos fatos pela esposa, muniu-se de uma grande tocha acesa e entrou na casa, apesar das advertências dos amigos.

A expectativa era grande, diante do silêncio dentro da casa. Surge então o homem na porta, arrastando algo. Todos recuam e ele atira diante deles um grande e grosso pedaço de corda.

Eis a grande “serpente”, a corda que comprei hoje à tarde para o meu serviço.

Quantas “serpentes da ilusão” nos atemorizam a vida por nos deixarmos envolver pela falsa aparência das coisas. É necessário discernimento para não sermos vítimas do pânico que envolve a maioria (a camponesa e seus vizinhos) e coragem para enfrentar os fatos com sabedoria (o marido da camponesa com a luz).

Enquanto a verdade não aparece, a ilusão mentirosa prevalece. Uma mentira, por mais fantástica que seja, e por maior que seja o número de pessoas envolvidas, não tem auto-sustentação e desmorona diante da Realidade que é auto-sustentável. A “corda” da nossa história continuou sendo corda mesmo quando a imaginação distorcida via nela uma serpente.

A ilusão necessita ser alimentada para parecer “realidade”. A mentira também precisa de muita astúcia e empenho para continuar, até que surja a Verdade para destruir a farsa.

Cabe aqui uma pergunta: em que nos empenhamos em nossa vida, em nosso dia-a-dia? Alimentamos inverdades por medo, comodismo ou interesses escusos, ou temos a ousadia de contrariar a maioria, expondo fatos verdadeiros?

Já disse Alguém, hoje pouco lembrado: “conhecereis a Verdade e a Verdade vos libertará”. Queremos realmente esta liberdade? Ou deixaremos a mentira, os mentirosos nos manipularem para seus fins egoístas e inconfessáveis? Temos humildade para compartilhar nossas “pequenas verdades” em busca de Algo Maior.

Discernimento, cooperação e humildade podem ajudar-nos a ver o falso, e então o Verdadeiro aparecerá. A decisão é de cada um, mas o resultado é para todos. Faça uma escolha consciente.


Texto de Iran Waldir Kirchner
Foto Ilustrativa