terça-feira, 2 de abril de 2013

O aperfeiçoamento do homem


O aperfeiçoamento do homem tem sido o propósito invariável de todos os sistemas religiosos, filosóficos, educacionais. O homem já tem, em si mesmo, um impulso natural para o aperfeiçoamento de tudo que o rodeia e é por isso que as transformações do nosso mundo material ocorrem. São tentativas na busca para atingir a perfeição. Mesmo que muitas vezes causem problemas pelo desconhecimento dos verdadeiros objetivos do aperfeiçoamento, são ensaios para buscas a Perfeição.

      Mas existe um ponto de fundamental importância que se deve ter sempre como base: todas as modificações que provocarmos no mundo material e exterior, tentando alcançar sempre melhores condições de vida material, com novas máquinas, novos remédios, alimentos melhores, vestimentas, comunicação mais eficiente, tudo isso são meios de aperfeiçoamento do ser Humano em si mesmo, da criatura espiritual que somos realmente. O principal objetivo que há em tudo o que criamos à nossa volta é o de nos aperfeiçoarmos através do trabalho que fazemos. O resultado do trabalho só tem importância pelo aperfeiçoamento que provoca em nós. 

E isso é bastante lógico, pois todas as nossas obras materiais, por mais fabulosas que sejam, são todas perecíveis e transitórias. Mas nós não somos perecíveis e nem transitórios, portanto, somos mais importantes que as obras. Os Mestres sempre nos ensinaram que devemos amar o trabalho e nos desapegarmos do fruto desse trabalho, pelo fato de que só o trabalho nos traz o aperfeiçoamento e nos faz evoluir. O resultado externo e material deste trabalho é transitório e desaparece no tempo, mas o resultado interno e espiritual provocado pelo trabalho nos aperfeiçoa, nos faz evoluir. Isso é a verdadeira Obra, a Obra Interna em cada um de nós. Essa Obra está além do tempo e do espaço, é eterna, porque permanece conosco que somos eternos.
 
      A maioria das pessoas trabalha e se esforça para conquistar um nível melhor de vida material, com mais recursos e mais conforto. Todas se aperfeiçoam pela execução do trabalho material que fazem, mas não têm consciência do verdadeiro sentido e da finalidade do trabalho. São atraídas pelos ilusórios frutos materiais que ganham. Quando os ensinamentos espirituais mais profundos não são entendidos, devido ao nosso estado evolutivo, a Natureza cria artifícios para que possamos nos aperfeiçoar mesmo deste modo. Esses artifícios agem como engodos ou iscas que nos atraem. Fascinados por esse chamariz, nós trabalhamos e pelo trabalho nos aperfeiçoamos.

      Se analisarmos a massa geral da humanidade, veremos que ela se aperfeiçoa de um modo indireto, pelo trabalho que faz cuidando da vida material, zelando pelos seus interesses e tentando conquistar melhores condições de vida para si e para seus familiares. A ilusão material que nos rodeia funciona como um ímã que nos atrai para a atividade e, com ela, vamos nos aperfeiçoando. Mesmo que trabalhemos com finalidades egoísticas, isso serve de lição para o aprimoramento interno de casa um de nós. Se as pessoas não se interessam e pouco entendem de seu aperfeiçoamento próprio, mesmo assim são atraídas para o processo de um modo indireto, por meio das ilusões do mundo material que agem como iscas e provocam a atividade e o esforço. É essa atividade, seja ela mental, física ou emocional, que produz o desenvolvimento e o aperfeiçoamento. O alvo material que se deseja conquistar funciona apenas como um engodo material e ilusório.

      Podemos fazer comparação para entendermos melhor esse artifício da Natureza. As crianças, desde pequenas, são cercadas de inúmeros brinquedos de cores e formas atrativas. Ainda berço, quando já enxergam e ouvem, elas ganham pequenos chocalhos coloridos para brincar. Isso atrai a atenção da criança que faz muito esforço para apanhá-los, o que aumenta a sua curiosidade. É com essas atividades que se exercitam física e mentalmente. Na medida em que as crianças crescem, seus brinquedos são trocados por outros que exigem mais esforços e imaginação e o processo de aperfeiçoamento continua. Já quando passam de adolescentes para a condição de adultos, os brinquedos da infância não têm mais finalidade, pois chegaram a tal estado físico, emocional e mental que necessitam novos meios de atração para que possam se exercitar, desenvolver e aperfeiçoar. 

As coisas materiais, com uma infinidade de formas e valores, substituem os brinquedos. Praticamente, todos nós somos atraídos pelo mundo fantástico de formas e imagens que vemos e acreditamos serem concretas e reais. Fascinados, tal como crianças diante de muitos brinquedos, queremos conseguir tudo o que nos rodeia e não medimos esforços para isso. É nessa luta para conquistar nossos sonhos materiais que desenvolvemos e aprimoramos nossas faculdades físicas, emocionais e mentais. Portanto, o trabalho com desapego ao fruto e só por amor ao próprio trabalho tem um sentido oculto muito profundo, que testemunha a sabedoria e o alto valor nos ensinamentos dos Mestres e Sábios.
 
      Quando o ser humano já percebe um pouco esses meios naturais para o aperfeiçoamento de si mesmo, um novo horizonte começa a ser percebido, muitas dúvidas e temores desaparecem para ele. Antes acreditava estar abandonado à sua própria sorte para ganhar a vida num mundo hostil e não via uma razão lógica para tanta luta e sacrifício. Agora, já começa a entender o porquê de muitas coisas que não tinham razão de ser. Essa criatura, já um pouco desperta para uma nova realidade, sente-se mais confiante e amparada, pois percebe vagamente que não está abandonada à sua própria sorte. 

ALGUÉM está velando por ela, cercando-a de muitos cuidados e meios para que possa crescer, evoluir, aperfeiçoar-se. Podemos comparar essa criatura com uma criancinha que foi se afastando do seu Pai, sem perceber que Ele a estava vigiando de longe. Ela começou a sentir medo e as coisas ao seu redor já não despertavam mais o seu interesse e curiosidade, julgou-se fraca e desamparada e gritou por ajuda. Seu pai, que estava sempre atento, percebeu a sua condição e prontamente lhe acenou. Quando a criança viu seu pai ao longe, ficou confiante e sentiu-se amparada novamente, mesmo estando ainda distante dele.

Texto de Iran Waldir Kirchner
Foto Ilustrativa

 

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