segunda-feira, 6 de maio de 2013

O Aperfeiçoamento (A natureza e o rio)


      Se analisarmos tudo o que nos rodeia, mesmo nos reinos mineral, vegetal e animal, notaremos que nada está inativo. Mesmo as pedras se transformam, e estão em atividade constante. Nos vegetais, já esta atividade é mais intensa do que nos minerais. Nos animais, desde os mais microscópicos, nota-se uma atividade ainda muito mais intensa.

      Toda a atividade observada na matéria produz modificações, produz transformações. Essas transformações que ocorrem com todas as coisas sucedem-se continuamente e orientam-se sempre numa mesma direção, num mesmo sentido, procuram sempre o APERFEIÇOAMENTO.

      Portanto, o Aperfeiçoamento é uma constante em todas as coisas, desde um minúsculo grão de areia até as formas mais complexas de vida. Nada contraria esta constante Universal, que se impõe de várias maneiras e em todos os sentidos possíveis.

      O Ser Humano não é uma exceção a essa norma, muito pelo contrário. Sendo ainda mais complexo em sua composição, qualidades e faculdades, tem atividades maiores. Essas atividades produzem transformações também maiores e, conseqüentemente, essas modificações constantes e contínuas levam todos nós, seres humanos, para um Aperfeiçoamento muito maior. Mesmo que queiramos resistir ao Aperfeiçoamento, seremos sempre arrastados para frente, muitas vezes indiretamente, em ziguezague e de formas dolorosas, mas iremos infalivelmente.

      Para termos uma melhor visão desta Constante Universal de Aperfeiçoamento, poderemos imaginá-la como a Grande Corrente de um imenso Rio. Todas as formas de vida estão contidas nesse Rio colossal e por ele são levadas num contínuo movimento, sempre em atividade, em constantes transformações, em uma obra de aperfeiçoamento contínuo. Nós, criaturas humanas, também estamos dentro dessa correnteza e, independente de sabermos disso ou não, estamos constantemente sendo levados por ela.

      Vamos agora analisar as diferentes maneiras de comportamento do ser humano dentro dessa corrente. Os vários modos de reação e de comportamento das pessoas vão depender diretamente do estado evolutivo de cada uma delas, do grau de esclarecimento espiritual, enfim, cada criatura reage conforme a bagagem de valores que acumulou nesta encarnação e nas anteriores.

      Para simplificar, vamos nos limitar a apenas três maneiras diferentes de comportamento.

      O primeiro tipo é a reação ao aperfeiçoamento. A pessoa pouco sabe sobre si mesma e não entende onde está e o porquê das transformações constantes provocadas por atividades diversas e incessantes da vida. Essa pessoa, por desconhecer esta constante de aperfeiçoamento que existe, reage instintivamente a qualquer mudança no seu estado de ser. Ela tem receio do que possa lhe acontecer se deixar de ser aquilo que é. Ela gosta de si mesma como pessoa física, acima de todas as coisas. Portanto, não quer modificar-se.

      Na criação manifestada, na matéria, existem três gunas, ou três qualidades ou atributos, chamados em sânscrito de Tamas, Rajas e Sattva. Ou seja, inércia – movimento (ação) – equilíbrio (sabedoria). Quando a qualidade tamásica predomina na criatura, ela se predispõe mais à inércia, à apatia, à confusão, à ignorância e ao erro. Poderíamos então considerar neste primeiro caso o comportamento de uma criatura tamásica com relação a esta grande corrente de aperfeiçoamento. Já podemos concluir o tremendo atrito que pessoas assim sentem pela oposição contra essa corrente. Comparativamente, podemos dizer que é como se realmente estivéssemos flutuando dentro de um grande rio, juntamente com muitas outras pessoas. Qualquer de nós que tentar se opor ao movimento normal das águas, se cansaria inutilmente e seria fatalmente abalroado constantemente por tudo que navega no sentido das águas. Realmente, as condições de uma criatura com esse comportamento são bastante deploráveis e penosas, pois é como se o mundo estivesse desabando sobre ela. Onde quer que se encontre, ali estará também o atrito, a desarmonia e a confusão, como se fossem mensagens de alerta que tentassem avisar-lhe de que algo está errado consigo, que precisa verificar o rumo que segue pois não chegará a lugar algum reagindo teimosamente contra as transformações de aperfeiçoamento. Haverá sempre desilusões e fracassos pelo emprego de suas forças em sentido contrário a todas as normas de aprimoramento e evolução. Existem algumas características marcantes nas criaturas deste nosso primeiro caso: o derrotismo pessimista e sombrio, a inércia, a irritação constante, a crítica destrutiva contra tudo, atitude hostil e defensiva contra qualquer coisa. Se existe inferno, este tipo de pessoa traz dentro de si mesma um verdadeiro inferno e, conseqüentemente, transborda para fora tudo aqui que sente. É impossível contar e tentar fingir o contrário. Um copo com mel só pode deixar transbordar mel e um copo com vinagre, somente vinagre. É impossível acontecer o contrário.

      Esse então seria o primeiro tipo de comportamento dentro da Grande Corrente de Aperfeiçoamento e Evolução: reação constante, falta de conhecimento de si mesmo e das sábias Leis Divinas ensinadas pelos Mestres.

      Vamos agora passar para o segundo tipo de comportamento. Neste tipo predomina a qualidade Rajas, que é uma das três gunas ou atributos que já citamos. É a qualidade de movimento, de ação, de luta, de paixão desenfreada. Esse tipo de criaturas não reage à atividade e às transformações como as do primeiro caso. Elas já percebem vagamente a correnteza do Grande Rio que as envolve, mas pouco sabem da finalidade dessa corrente. E como ignoram essa constante de aperfeiçoamento, apesar de ativas e de estarem sempre se transformando, elas não sabem dirigir suas ações e movimentos em harmonia com o sentido da corrente, ou seja, do aperfeiçoamento.

      Devido a essa atividade desordenada, sem perceberem o objetivo das várias transformações, as criaturas com esse comportamento também reagem indiretamente ao sentido da corrente. Suas forças são mal dirigidas e provocam modificações desnecessárias ao sentido do aperfeiçoamento. Mas, apesar disso, elas colhem algum benefício, pois mesmo que naveguem em ziguezague dentro do rio, vão aos poucos corrigindo o rumo de suas ações e objetivos, errando sempre menos pelas experiências infelizes do passado. Esse tipo abrange a maioria das pessoas.

      O terceiro e último tipo de comportamento tem como característica principal um acentuado desenvolvimento de equilíbrio e sabedoria, ou seja, a guna chamada Sattva seria predominante neste tipo. É difícil para nós tentar entender e descrever essa classe de seres pois estão em um nível bem acima de nós, seres humanos comuns, que somos mais afetados por Rajas, ação desmedida e apaixonada, sem equilíbrio e sabedoria.

      Vamos imaginar as criaturas deste nosso terceiro caso também flutuando nesse Rio simbólico e sendo levadas pelas suas águas. Elas não estariam reagindo ao sentido da corrente como aqueles do primeiro caso. E nem, tampouco, desperdiçariam inutilmente suas forças em rumos diferentes no sentido normal da corrente, como aqueles do nosso segundo caso. Estas criaturas têm conhecimento de onde estão, percebem o Grande Rio, sua correnteza, suas normas ou leis e sabem da razão de sua existência, que é conduzir tudo que existe em constante aperfeiçoamento. A Sabedoria que estes seres têm e praticam, junto com o equilíbrio e a lucidez, faz com que naveguem com segurança e rapidez neste rio. A angústia e a dúvida já não existem mais para eles, pois não oferecem resistência às leis, mas procuram cumpri-las para se aperfeiçoarem cada vez mais. Sabem sempre enfrentar todos os obstáculos de jornada com confiança e serenidade e aproveitam todas as experiências e os novos conhecimentos que encontram em benefício próprio e de outros.

      São pessoas abnegadas e altruístas, que dedicam toda sua vida aos seus semelhantes e a ideais elevados.
 
Texto de Iran Kirchner
Foto ilustrativa
 

 


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