Há algumas décadas, quase tudo o
que se referia à selva, às grandes matas virgens, recebia uma conotação
negativa, de perigo, de ameaça, de mistério. Assombrados pelos contos
fantasiosos sobre os perigos que rondavam aqueles reinos, a grande maioria
evitava qualquer contato, com pavor até do que poderia lá encontrar. Serpentes,
animais ferozes, plantas venenosas, canibais e muitas outras ameaças à vida
humana. Realmente, a imagem transmitida era a de um verdadeiro inferno, onde as
forças maléficas espreitavam os incautos
.
Nesse clima de negatividade, aliado à
ganância humana, incentivada pela má interpretação bíblica, houve um grande
incentivo à devastação e depredação do “hediondo” inferno verde, florestas
milenares de riquezas incalculáveis de flora e fauna. Diz a Bíblia: “Disse Deus
mais: Eis que vos tenho dado todas as ervas que dão semente, as quais se acham
sobre toda a face da terra, e todas as árvores em que há fruto e dê semente;
servirvos-ão para mantimento. A todos os animais selvagens e a todas as aves do
céu e a tudo que se arrasta sobre a terra, em que há vida, tenho dado todas as
ervas verdes para lhes servirem de mantimento; e assim se fez.” Gênesis,
1:29-30)
Em contraposição ao crime ambiental,
foram construídos os paraísos de pedra, ferro e cimento. Aglomerados
gigantescos onde as pessoas vivem empilhadas em cubículos minúsculos e onde as
matas são admiradas em quadros, pinturas e em pequenos vasos de ornamentação. O
solo, calçadas e vias públicas são cimentadas e asfaltadas como se fosse
vergonhoso expor a terra com sua cobertura vegetal natural no idolatrado
“paraíso” artificial.
O grande engano do “homo sapiens”, que
se acha o centro e dono único da vida planetária, tem custado muito caro à
espécie humana e aos bens e riquezas naturais. Nenhum predador irracional foi
tão perigoso na história planetária, pondo em risco o equilíbrio vital para
todo o globo terrestre. Os elementos naturais evoluíram e se estabeleceram há
milhões de anos e permitiram as condições para o aparecimento do homem, apenas
há poucos milhares de anos.
Pelos sintomas climáticos atuais – que
não são poucos e nem agradáveis – poderemos prever as péssimas condições para a
vida humana no futuro. Deveremos investir ainda mais nas megalópoles de pedra e
ferro? Aprenderemos a conviver em parceria com o reino vegetal, com equilíbrio
e respeito? O reinado humano está em crise interna, em si mesmo, e externamente
com os demais reinos da natureza. Perdemos o rumo e os sinais são evidentes e
concretos.
Somos o resultado da soma da contribuição dos reinos mineral,
vegetal e animal e outros. O reino hominal poderá estar sendo rejeitado pela
grande maioria dos outros reinos, e pela nossa crise interna não percebemos
ainda. Seremos banidos, expurgados, exilados? Mas, para onde? Algum outro
planeta poderá nos acolher?
Talvez tenhamos que recordar para
aprender com o passado, com nossas tradições primitivas da infância da
humanidade, suas lendas, seus mitos, seus ensinamentos rústicos mas que
sinalizavam o respeito para com as energias naturais do planeta. Como crianças
da raça humana, endeusavam e personificavam todas as energias que nos rodeiam,
interpenetram e nos sustentam.
Hoje, a ciência deslumbra-se com o potencial
infinito destas forças naturais; usou-as para o crescimento tecnológico e
aplicou-as para melhorar as condições humanas e naturais, mas criou também o
orgulho e a soberba. Perdemos a humildade, o respeito para com a Natureza,
queremos subjugá-la aos nossos caprichos superficiais. Nos rebelamos, como
crianças que querem dominar e maltratar seus pais, e as reações são
inevitáveis.
Se desrespeitamos as águas, desrespeitamos a nós mesmos, pois
somos compostos de água , temos em nosso corpo os minerais do solo, temos a
flora intestinal como as florestas, nossos pulmões são como árvores que nos
ligam ao reino dos ares. É o calor do Sol que nos alimenta direta e
indiretamente pelos alimentos. Não sejamos ingratos, pois quem desrespeita a
criação, desrespeita também o CRIADOR.
Texto de Iran Waldir Kirchner
Foto Ilustrativa
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