sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Do conhecimento à sabedoria!

Um sábio professor ensinava seus alunos ávidos de conhecimento, mas sentia-se frustrado por não poder transmitir-lhes algo mais elevado para orientá-los em suas vidas após concluírem a formação acadêmica. Imaginou, então, uma tarefa para toda a classe que pudesse ajudá-los no exercício futuro de suas atividades.

     Disse-lhes:
     – Quero que toda a classe faça um trabalho em conjunto sobre uma determinada fruta que, sendo especial por suas qualidades, é também muito rara. É uma tarefa muito complexa, mas vocês têm todos os recursos para fazer um verdadeiro tratado sobre este alimento.

     Toda a classe ficou entusiasmada, pois poderiam melhorar muito a média de suas notas finais. Os alunos dividiram-se em grupos para pesquisar com maior profundidade cada detalhe técnico daquela maravilhosa fruta. Saíram para as bibliotecas, livrarias e entraram até na internet em busca de informações técnicas as mais precisas e completas. Após dias de trabalho, reuniram-se e organizaram todos os conhecimentos coletados em um só volume e apresentaram orgulhosos ao professor, ansiosos pela nota de avaliação.

     O professor examinou todos os detalhes com muita atenção, fazendo expressões de admiração pelas minúcias encontradas, provocando o entusiasmo de toda a classe. Levantou-se solenemente, foi para perto dos alunos com o volumoso tratado nas mãos, e disse:
     – Ótimo trabalho, muito bom mesmo, rico em detalhes técnicos a respeito da nossa preciosa fruta. Só mais um ponto necessário para obterem a nota máxima: onde está nossa maravilhosa fruta? Quem de vocês saboreou-a para nos contar sua experiência?

     Toda a classe ficou muda e pasma. Ninguém teve a ideia de saborear a fruta e todos reconheceram a grande falha cometida.
     O professor, dirigindo-se aos alunos, disse:

     – Vocês passarão alguns dias em companhia de um modesto agricultor que cultiva essa fruta há anos e se alimenta dela. Ele vai complementar o conhecimento teórico de vocês com sua vivência prática e sua sabedoria. Então, farei a avaliação de suas experiências.

     Todos nós nos iludimos com o acúmulo de conhecimentos teóricos. Nosso orgulho é alimentado e cresce e ficamos bloqueados. Não aproveitamos a melhor parte – a vivência direta do conhecimento que vem a ser a verdadeira sabedoria.

     Na humanidade, existe uma carência muito grande da verdadeira Sabedoria, apesar de muitos sábios terem deixado exemplos de vida. Estamos – quase todos – abarrotados de conhecimentos em todos os níveis, mas a aplicação sábia é muito pouca. Sofremos nossas crises existenciais que a medicina tradicional não soluciona. Nossas almas estão tolhidas pelo intelectualismo superficial e deixamos de fluir nossa real natureza. Vivemos pela metade e não em nossa plenitude. O Sábio dos Sábios já alertava: “Apenas a letra mata, é o espírito da letra que vivifica”. E sobre os intelectuais da sua época apontava: “Eles colocam fardos pesados e muitas obrigações ao povo, mas não cumprem uma vírgula sequer”. E ainda: Eles têm as chaves do Reino da Bem-aventurança, não entram e confundem com exterioridades os que querem entrar.” Foi muito mais direto ainda quando disse: “São semelhantes aos túmulos caiados por fora, mas dentro só existe a podridão.”


     O conhecimento é apenas um meio, um recurso mais rápido para chegar à Sabedoria, que dá a verdadeira vivência completa – a do corpo e da alma.

Texto de Iran Waldir Kirchner 
Foto Ilustrativa 

Nenhum comentário:

Postar um comentário