Um sábio professor ensinava seus
alunos ávidos de conhecimento, mas sentia-se frustrado por não poder
transmitir-lhes algo mais elevado para orientá-los em suas vidas após
concluírem a formação acadêmica. Imaginou, então, uma tarefa para toda a classe
que pudesse ajudá-los no exercício futuro de suas atividades.
Disse-lhes:
– Quero que toda a classe faça um
trabalho em conjunto sobre uma determinada fruta que, sendo especial por suas
qualidades, é também muito rara. É uma tarefa muito complexa, mas vocês têm
todos os recursos para fazer um verdadeiro tratado sobre este alimento.
Toda a classe ficou entusiasmada, pois
poderiam melhorar muito a média de suas notas finais. Os alunos dividiram-se em
grupos para pesquisar com maior profundidade cada detalhe técnico daquela
maravilhosa fruta. Saíram para as bibliotecas, livrarias e entraram até na
internet em busca de informações técnicas as mais precisas e completas. Após
dias de trabalho, reuniram-se e organizaram todos os conhecimentos coletados em
um só volume e apresentaram orgulhosos ao professor, ansiosos pela nota de
avaliação.
O professor examinou todos os detalhes
com muita atenção, fazendo expressões de admiração pelas minúcias encontradas,
provocando o entusiasmo de toda a classe. Levantou-se solenemente, foi para
perto dos alunos com o volumoso tratado nas mãos, e disse:
– Ótimo trabalho, muito bom mesmo,
rico em detalhes técnicos a respeito da nossa preciosa fruta. Só mais um ponto
necessário para obterem a nota máxima: onde está nossa maravilhosa fruta? Quem
de vocês saboreou-a para nos contar sua experiência?
Toda a classe ficou muda e pasma.
Ninguém teve a ideia de saborear a fruta e todos reconheceram a grande falha
cometida.
O professor, dirigindo-se aos alunos,
disse:
– Vocês passarão alguns dias em
companhia de um modesto agricultor que cultiva essa fruta há anos e se alimenta
dela. Ele vai complementar o conhecimento teórico de vocês com sua vivência
prática e sua sabedoria. Então, farei a avaliação de suas experiências.
Todos nós nos iludimos com o acúmulo
de conhecimentos teóricos. Nosso orgulho é alimentado e cresce e ficamos
bloqueados. Não aproveitamos a melhor parte – a vivência direta do conhecimento
que vem a ser a verdadeira sabedoria.
Na humanidade, existe uma carência
muito grande da verdadeira Sabedoria, apesar de muitos sábios terem deixado
exemplos de vida. Estamos – quase todos – abarrotados de conhecimentos em todos
os níveis, mas a aplicação sábia é muito pouca. Sofremos nossas crises
existenciais que a medicina tradicional não soluciona. Nossas almas estão
tolhidas pelo intelectualismo superficial e deixamos de fluir nossa real
natureza. Vivemos pela metade e não em nossa plenitude. O Sábio dos Sábios já
alertava: “Apenas a letra mata, é o espírito da letra que vivifica”. E sobre os
intelectuais da sua época apontava: “Eles colocam fardos pesados e muitas
obrigações ao povo, mas não cumprem uma vírgula sequer”. E ainda: Eles têm as
chaves do Reino da Bem-aventurança, não entram e confundem com exterioridades
os que querem entrar.” Foi muito mais direto ainda quando disse: “São
semelhantes aos túmulos caiados por fora, mas dentro só existe a podridão.”
O conhecimento é apenas um meio,
um recurso mais rápido para chegar à Sabedoria, que dá a verdadeira
vivência completa – a do corpo e da alma.
Texto de Iran Waldir Kirchner
Foto Ilustrativa
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