domingo, 15 de fevereiro de 2015

Adoração ao conhecimento (Parte II)

 
 O homem que não se deixa conquistar pela Sabedoria é como um barco que recusa um comandante – quando não se destrói, fica sempre vagando sem rumo. A Sabedoria desperta a criatura para sua verdadeira identidade como Ser Imortal que é, parte de uma Unidade Infinita. É por isso que os valores superiores sempre têm um sentido de Unidade, de união das criaturas, nunca de separação.

      A Sabedoria está acima dos nossos veículos inferiores, mesmo acima da mente com a maior bagagem de conhecimentos. O Conhecimento é  apenas um meio e, por si só, não leva além do plano material.   Se a criatura se basear apenas no Conhecimento, sem viver os valores da Sabedoria, só vai acreditar que é o físico e, como consequência, vai viver para o físico como sua única realidade.

      É assim que o materialista convicto, desprezando os valores da Sabedoria, entende que ele, como pessoa física, é um fim em si mesmo e não um meio de expressão de uma realidade maior.  É muito fácil confundir-se Sabedoria com Conhecimento. E até no campo religioso essa confusão é encontrada.

     O Conhecimento pode ser encontrado em livros e ser transmitido. A Sabedoria não é transmitida, nem pode ser escrita. É algo que pode nos tocar, mas não pode ser contida. O conhecimento é letra morta, só permanece no exterior. A Sabedoria é a própria vida que vivifica tudo o que toca e está no centro. Sabedoria é a vivência.

      A criatura, ao ser agraciada pela Sabedoria, não conquista algo, mas é conquistada. Ela não pode se servir da Sabedoria, mas só  deseja servi-La.
      Pode parecer um escravo, mas se sentir o mais livre dos homens.
      É uma lástima que muitos grandes homens em todas as religiões que poderiam ser verdadeiros mensageiros da Sabedoria para a Humanidade, como exemplos vivos, ficaram cegos pela letra. E deles já falava Alguém hoje já esquecido: Eles têm as chaves do Reino dos Céus, mas não entram e confundem os que querem entrar. E disse ainda mais: A letra mata, só o espírito vivifica.

      Em outras palavras: o Conhecimento, mesmo o religioso, é morto, inerte, mesmo que esteja gravado em letras de ouro e só seja pronunciado em cerimônias solenes e em lugares secretos. Só a Sabedoria, que é Divina, pode dar vida, a vivência, o exemplo.

      Aquele que busca a Sabedoria é semelhante ao garimpeiro que procura ouro. Vive a remexer cascalho o tempo todo e sempre está à procura de mais cascalho para remexer. Mas, quando encontra algum vestígio do metal precioso, por menor que seja, ele sabe que está próximo de um grande veio, e esquece todo o cascalho remexido durante longos anos e se dedica com atenção somente àquele ponto. As amostras que acha, mesmo que pequenas, são de incomparável valor em relação a todas as montanhas de cascalhos que já encontrou.

      Assim faz o buscador de Sabedoria: remexe montanhas de conhecimentos, mas deixa tudo para trás sem levar nada, pois não encontrou o que busca. Vai em frente e continua procurando, até que vê um pequeno brilho em certo ponto, minúsculo, mas pela luz ele sente que é verdadeiro. Naquele momento, todo o conhecimento do mundo não tem mais valor para ele, vai sempre naquela direção, não importa que esteja ainda longe, pois tem certeza de que a direção é correta.

Texto de Iran Waldir Kirchner
Foto Ilustrativa



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