domingo, 25 de novembro de 2012

Higiene Mental – Parte III


E esta é a grande ilusão que envolve a criatura menos avisada, fazendo com que ela acredite que a felicidade está fora dela mesma, que a felicidade é comprada naquilo que se come, veste e usa. Reduzir o ser humano a uma pequena pele que contém um estômago e um sexo e nada mais é violentar a si mesmo no que é mais precioso e fundamental – a natureza interior. Esse desconhecido ser-consciência que somos não aceita nada estranho à felicidade inerente a si mesmo. Tentar colocar a felicidade fora de nós mesmos, do nosso íntimo, é como querer mudar o eixo de sustentação de uma grande roda em movimento – perdemos o equilíbrio, a harmonia e a felicidade do viver.
 
O que realmente é necessário é colocarmos para fora, sempre, freqüentemente, o lixo mental-emocional que aparece pela nossa atividade diária. Esse sim é nefasto e perigoso, como já vimos, e principalmente pelo fato de que ele nos cega e nos desvia do caminho para nossa real felicidade que está muito perto, próxima demais, dentro demais. Mas, pela nossa desorientação e confusão não a percebemos e nos afastamos dela procurando-a no sentido contrário, fora de nós mesmos. E, dessa maneira, criamos a ilusão de uma falsa felicidade – a felicidade-objeto, uma satisfação passageira quando conseguimos algo desejado. E aí acontece que recebemos aquilo tão esperado e desaparece nossa ansiedade, nossas preocupações exteriores e nos sentimos bem, serenos, voltamos para nós mesmos. É esta aproximação para a nossa real natureza (Ser-Consciência-Felicidade) – que nos dá aquela alegria sentida, e não o objeto que recebemos de fora.
 
Se isso fosse verdade, aquela alegria não seria temporária, mas permanente e cada vez acrescida pelo recebimento de novas coisas exteriores. Mas, isso não acontece, pois a felicidade-objeto logo desaparece ao reiniciarmos um novo ciclo. Um novo objeto é desejado, o que não é problema em si. A questão é o querer ligar felicidade a algo exterior. Com isso, nós nos deslocamos para fora e para longe do nosso centro de consciência, perdemos contato com nossos valores interiores, com a nossa própria essência, voltamos as costas para a Felicidade Real e vamos em busca de uma felicidade-objeto falsa.

      É esta a condição do ser humano em quase a sua totalidade. É tão grande e tão expressiva que pode parecer normal, mas não é, o que é, na realidade, é a violação de uma lei natural e permanente. A Felicidade é uma parte integrante da criatura, indispensável, insubstituível. Sem ela, somos inferiores aos animais. Os fatos em si mesmos comprovam esta lei, a humanidade sofre durante as conseqüências.

      O problema parece insolúvel, mas não é. Algumas poucas, mas grandes criaturas já ensinavam desde milênios: Onde está o veneno, ali também está o contra-veneno. A criatura humana é,  por si mesma, o caminho, a verdade e a vida. Busque e encontrarás, bata e a porta se abrirá. Mas o caminho é áspero e estreito. Na literatura de todos os povos, em todos os tempos, encontramos indicadores precisos e que apontam na mesma direção – para dentro da própria criatura, na sua essência, no seu fundamento, na sua consciência.
 
Caminhos exteriores à criatura existem aos milhares, mas para o interior somente a própria criatura, em si mesma, poderá descobrir. Ninguém de fora, por melhor que seja, pode nos carregar para o nosso templo interior, mas no templo HÁ ALGO que pode mostrar a senda até lá, mas o trabalho de caminhar, de bater à porta é de cada um consigo mesmo. O pedido é íntimo e particular, em segredo, com as portas e janelas fechadas (os sentidos fechados para fora e voltados para dentro). A Prece é a comunicação com Aquele Algo Superior em nós e a resposta virá na meditação do Silêncio. Orai e vigiai – é o ensinamento. Para vigiar, deve-se estar atento e muito quieto e assim será ouvida a Voz do Coração 
 
Texto de Iran Waldir Kirchner
Foto Ilustrativa

 

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