E esta é a grande ilusão que envolve a
criatura menos avisada, fazendo com que ela acredite que a felicidade está fora
dela mesma, que a felicidade é comprada naquilo que se come, veste e usa.
Reduzir o ser humano a uma pequena pele que contém um estômago e um sexo e nada
mais é violentar a si mesmo no que é mais precioso e fundamental – a natureza
interior. Esse desconhecido ser-consciência que somos não aceita nada estranho
à felicidade inerente a si mesmo. Tentar colocar a felicidade fora de nós
mesmos, do nosso íntimo, é como querer mudar o eixo de sustentação de uma
grande roda em movimento – perdemos o equilíbrio, a harmonia e a felicidade do
viver.
O que realmente é necessário é colocarmos para fora, sempre, freqüentemente,
o lixo mental-emocional que aparece pela nossa atividade diária. Esse sim é
nefasto e perigoso, como já vimos, e principalmente pelo fato de que ele nos
cega e nos desvia do caminho para nossa real felicidade que está muito perto,
próxima demais, dentro demais. Mas, pela nossa desorientação e confusão não a
percebemos e nos afastamos dela procurando-a no sentido contrário, fora de nós
mesmos. E, dessa maneira, criamos a ilusão de uma falsa felicidade – a
felicidade-objeto, uma satisfação passageira quando conseguimos algo desejado.
E aí acontece que recebemos aquilo tão esperado e desaparece nossa ansiedade,
nossas preocupações exteriores e nos sentimos bem, serenos, voltamos para nós
mesmos. É esta aproximação para a nossa real natureza (Ser-Consciência-Felicidade)
– que nos dá aquela alegria sentida, e não o objeto que recebemos de fora.
Se
isso fosse verdade, aquela alegria não seria temporária, mas permanente e cada
vez acrescida pelo recebimento de novas coisas exteriores. Mas, isso não
acontece, pois a felicidade-objeto logo desaparece ao reiniciarmos um novo
ciclo. Um novo objeto é desejado, o que não é problema em si. A questão é o querer
ligar felicidade a algo exterior. Com isso, nós nos deslocamos para fora e para
longe do nosso centro de consciência, perdemos contato com nossos valores
interiores, com a nossa própria essência, voltamos as costas para a Felicidade
Real e vamos em busca de uma felicidade-objeto falsa.
É esta a condição do ser humano em
quase a sua totalidade. É tão grande e tão expressiva que pode parecer normal,
mas não é, o que é, na realidade, é a violação de uma lei natural e permanente.
A Felicidade é uma parte integrante da criatura, indispensável, insubstituível.
Sem ela, somos inferiores aos animais. Os fatos em si mesmos comprovam esta
lei, a humanidade sofre durante as conseqüências.
O problema parece insolúvel, mas
não é. Algumas poucas, mas grandes criaturas já ensinavam desde
milênios: Onde está o veneno, ali também está o contra-veneno. A
criatura humana é, por si mesma, o caminho, a verdade e a vida.
Busque e encontrarás, bata e a porta se abrirá. Mas o caminho é áspero e
estreito. Na literatura de todos os povos, em todos os tempos, encontramos
indicadores precisos e que apontam na mesma direção – para dentro da própria
criatura, na sua essência, no seu fundamento, na sua consciência.
Caminhos
exteriores à criatura existem aos milhares, mas para o interior somente a
própria criatura, em si mesma, poderá descobrir. Ninguém de fora, por melhor
que seja, pode nos carregar para o nosso templo interior, mas no templo HÁ
ALGO que pode mostrar a senda até lá, mas o trabalho de caminhar, de bater
à porta é de cada um consigo mesmo. O pedido é íntimo e particular, em segredo,
com as portas e janelas fechadas (os sentidos fechados para fora e voltados
para dentro). A Prece é a comunicação com Aquele Algo Superior em nós e a
resposta virá na meditação do Silêncio. Orai e vigiai – é o ensinamento. Para
vigiar, deve-se estar atento e muito quieto e assim será ouvida a Voz do
Coração.
Texto de Iran Waldir Kirchner
Foto Ilustrativa
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