O ser humano se diz civilizado e
racional, fazendo muita questão sobre a higiene corporal no dia-a-dia. Mas, a
higiene mental ou não existe ou está em segundo plano. A insuficiência de
lucidez, a serenidade precária, as neuroses, as angústias e os descontroles,
tudo isso afeta o bem estar do dia-a-dia. Instintivamente, tenta-se resolver o
problema quando atinge o ponto crítico, não se suportando mais, tenta-se jogar
tudo para fora de qualquer maneira, sem saber o que é que incomoda e nem como
se livrar daquela situação intolerável. As coisas mais simples são sempre
lições preparatórias para a solução das mais complexas.
Em nossas casas,
sabemos identificar e reconhecer uma sujeira, um resíduo que atrapalha nossos
familiares. Do mesmo modo, temos que saber identificar um resíduo mental quando
surge; aquele pensamento que atravessa no raciocínio, desvia a atenção e faz
perder-se a concentração no objetivo desejado. Por exemplo, estou lendo agora,
e um pensamento fora do assunto surge, e eu não o identifico como estranho e
indesejável. Ele vai atrair minha atenção, eu sairei fora do assunto tratado,
perderei a concentração mental e não entenderei nada do que foi lido. Mas se,
ao contrário, assim que ele surgir for identificado claramente como um intruso
indesejável, então será desmascarado e a mente o retira do caminho.
Voltando a nossa comparação: se um
lixo é encontrado no assoalho, apenas desviá-lo não resolve e nem chutá-lo
para o canto, pois ele continuará atrapalhando. O que resolve e colocá-lo no
seu devido lugar – a cesta de lixo. Nossa mente é muito maior que uma casa,
muito mais rica e capaz. Ela pode criar em si mesma uma área para colocar os
resíduos mentais que atrapalham seu bom funcionamento. E, do mesmo modo que
damos comando à nossa mão para apanhar o lixo do chão e colocá-lo na cesta, a
mente necessita sempre uma ordem para fazer qualquer tarefa.
Fisicamente, sabemos que todo lixo
acumulado em uma casa precisa ser periodicamente removido para fora, para que
tenha um fim definitivo, e isto é racional e lógico. Mas, vamos imaginar uma
situação curiosa: duas pessoas, saindo de suas casas para colocar os sacos de
lixo na lixeira, se encontram e começam a mostrar o que carregam. Diz uma: –
“Veja quanto lixo que eu carrego, é muita coisa para mim, leve um pouco para
você, não suporto esta carga!” A outra pessoa responde: – “Mas o meu é muito maior
e mais horrível do que o seu, você é que tem que me aliviar dele!” E ali
ficariam até que todo o lixo fosse mostrado e ficasse espalhado, fora da
lixeira. Isto realmente seria um absurdo, algo ilógico e até irracional.
Mas,
não é exatamente isso que acontece com o ser humano quando, sufocado com tanto
lixo mental e emocional, quer jogar tudo para fora, de qualquer maneira, em
qualquer lugar, e em cima de quem quer que esteja próximo? Não é exatamente
isso que acontece quando queremos desabafar, seja em menor ou maior grau de
angústia? Mas, diriam: “É necessário botar para fora!” E é realmente, e isso
periodicamente, habitualmente, para evitar que chegue a um nível perigoso e
venha a transbordar. Mas, colocar para fora de modo eficiente, por vias de competência
e para que tenham um destino sem volta, um fim definitivo.
Texto de Iran Waldir KirchnerFoto Ilustrativa
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