Veremos agora certos pontos básicos
para que possamos desenvolver o aperfeiçoamento. Para termos uma melhor visão,
vamos fazer uma comparação com algo material e conhecido.
Por exemplo, se eu tenho uma casa não
muito boa, desejo aperfeiçoá-la. Se eu a considerasse como uma ótima casa,
estaria satisfeito com ela e não pensaria em mudá-la, mesmo que outras pessoas
dissessem o contrário. Mas eu quero realmente aperfeiçoar a casa, pois me
serviria melhor, seria mais útil, mais segura, etc.
Após este primeiro ponto estar bem
determinado, o próximo seria um conhecimento, o mais exato possível, da casa,
como está constituída, para descobrir o que deve e pode ser modificado. Um
conhecimento superficial não é o bastante, é necessário um estudo profundo
antes de qualquer modificação. Caso contrário, poderia mudar o que não deve ser
mudado e ficaria pior do que antes.
O terceiro ponto seria projetar um
modelo daquilo que quero com a reforma da minha casa antiga.
O quarto ponto seria o planejamento
completo para reunir todos os meios e recursos necessários à reforma da
casa.
O quinto e último ponto seria
trabalhar com constância para que a obra se realize e não passe apenas de um
sonho.
No exemplo da casa já notamos a
presença destes requisitos fundamentais ao aperfeiçoamento:
1. Querer verdadeiramente o
aperfeiçoamento;
2. Conhecer com profundidade o que
deve ser aperfeiçoado.
3. Idealizar um modelo como alvo do
aperfeiçoamento.
4. Planejar e reunir meios e condições
favoráveis ao redor do que deve ser aperfeiçoado.
5. Trabalhar com dedicação e perseverança.
Agora, vamos aplicar cada um desses
pontos, focalizando a Aperfeiçoamento do Ser Humano.
Se alguém está plenamente feliz
consigo mesmo, com sua maneira de ser, de sentir e de pensar, o máximo que pode
fazer é sonhar com um auto-aperfeiçoamento e nada mais. Talvez alguma fraca
tentativa seja feita para justificar-se a si mesmo, mas sabe que nada vai
acontecer, pois não há um verdadeiro querer de auto-aperfeiçoamento. Sem este
primeiro passo fundamental, toda teoria que tivermos acumulada, todo estudo,
por mais profundo que seja, não passará de um passatempo intelectual e vazio.
Portanto, é indispensável para o
auto-aperfeiçoamento, que se eliminem primeiro todas as barreiras e
condicionamentos que bloqueiam o verdadeiro querer. Sem isso, jamais teremos a
motivação necessária para fazer um trabalho sério em nós mesmos. Toda tentativa
já estará condenada ao fracasso, pois falta a base sólida de uma vontade firme
de transformação.
Mas, como se pode desenvolver uma
forte vontade de transformação, de auto-aperfeiçoamento? Como criar esse
impulso inicial e indispensável sem o qual nada é possível? Aqui
já começamos a perceber a importância daquele segundo ponto básico já
visto: conhecer com profundidade o que deve ser aperfeiçoado. É necessário que
eu me conheça como eu sou agora, para saber o que pode ser aperfeiçoado. É um
trabalho de auto-análise imparcial, com detalhes os mais exatos possíveis. Sem
esses conhecimentos correria o risco de piorar e não melhorar. Cabe aqui uma
explicação: o conhecimento que aqui se refere não é o de nossa personalidade
superficial, aparente – um nome, uma condição social, meus recursos
intelectuais e financeiros, a aparência ou impressão provocada no exterior, o
conceito de familiares e amigos. Tudo isso são efeitos indiretos, superficiais
e variáveis. Não se trata de conhecer os efeitos produzidos no exterior, mas
sim as causas que geram esses efeitos. Essas causas se encontram dentro e não
fora. Esse conhecimento profundo também não se refere ao Eu Superior e Eterno.
É muito bom termos essa convicção como estímulo ao aperfeiçoamento, mas é muito
mais importante conhecermos, em primeiro lugar, o que nos é mais familiar e
pode ser notado a todo instante, o que está mais à mão.
É muito lógico que, se ainda a
criatura não se conhece nas formas mais simples de si mesma, como poderá saltar
diretamente para outras formas muito mais complexas e refinadas? Se neste plano
em que estamos nós manipulamos e contatamos diretamente muito mais com nossos
corpos físico, emocional e mental, é por essa razão que temos que conhecer
esses corpos, aprender a usá-los e aperfeiçoá-los. Se já tivéssemos feito tudo
isso com perfeição, não estaríamos sempre envolvidos em circunstâncias onde há
predominância do físico, do mental e do emocional. Se um aluno está em uma
escola primária, ele estará sempre rodeado de ensinamentos primários; poderá
ouvir falar que existe o ensino superior, como incentivo ao estudo, mas
enquanto não aprender a utilizar com perfeição os recursos que tem em mãos, não
receberá outros ensinamentos superiores. Existe uma perfeição absoluta em tudo
o que existe, mas está muito além de nossa capacidade de perceber. Portanto,
não podemos rejeitar coisa alguma, senão seremos alunos rebeldes e voltaremos
sempre até aprendermos o que é necessário.
Como então o ser humano, que quer
aperfeiçoar-se, pode se conhecer melhor? A teosofia ensina que temos sete
corpos, sendo que os três primeiros são: um corpo físico, um corpo emocional ou
astral e um corpo mental concreto ou inferior. São esses que nos são mais
familiares e com os quais estamos em mais contato, portanto temos que
conhecê-los muito bem em primeiro lugar.
Sobre nosso corpo físico já temos
muitos dados e informações pelas pesquisas científicas. Mas a ciência vê o
corpo físico como uma causa, a origem dos outros corpos, por isso existem
muitos vazios sem explicação científica. Os ensinamentos teosóficos ensinam que
o corpo que temos é apenas um efeito, uma conseqüência. É a manifestação material
mais densa de corpos mais refinados e superiores. É o nosso instrumento
material através do qual podemos nos manifestar neste mundo material. É sob
este ângulo que devemos conhecer nossos corpos físico, emocional e mental. São
instrumentos através dos quais nós, seres espirituais, nos manifestamos e
atuamos neste plano material. Apesar destes corpos estarem interligados entre
si, existe uma hierarquia entre eles: o físico é o mais denso e inferior, o
emocional ou astral é superior ao físico, e o mental concreto ou mental
inferior, está acima deles.
Podemos, através de livros, ter
conhecimentos muito úteis sobre esses três corpos, mas isso é apenas um
início, é necessário expandir esse conhecimento em nós mesmos, cada um em
si mesmo. O objetivo é o aperfeiçoamento de cada um consigo mesmo. Esse
trabalho de se conhecer é individual de cada um de nós. Não existe um padrão
único de atividades nestes três corpos, principalmente no emocional e no
mental. Eles variam de uma pessoa para outra e em cada ocasião reagem de modos
diferentes. Portanto, só cada um pode observar a si mesmo e se conhecer melhor.
Ninguém pode fazer esse trabalho melhor do que nós mesmos. E é só através desse
conhecimento próprio que saberemos como nos aperfeiçoar. Examinando, comparando
e discernindo tudo o que sentimos e pensamos, só assim saberemos o que deve ser
corrigido e aperfeiçoado.
Somente a partir desse conhecimento de
nós mesmos, sabendo de tudo que se passa dentro de nós, nossas reações, etc., é
que começamos a idealizar um modelo mais aperfeiçoado de nós mesmos. E este é o
terceiro requisito fundamental ao auto-aperfeiçoamento.
Texto de Iran Kirchner
Foto ilustrativa
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