Há pouco tempo, conversando com
uma pessoa conhecida, ela me contou histórias mirabolantes, todas com aquele
tom de “é verdade!” Várias vezes, durante a conversa, tive vontade de dizer:
“Ei! Acorde! Você está viajando!” Mas fiquei quieta e refleti. Muitas vezes
criamos em torno de nós um mundo ilusório, um mundo onde possamos nos abrigar
das mazelas do mundo. E acreditamos que esse mundo existe...
Não quero dizer que não devemos
sonhar. O sonho é uma coisa positiva,
mas precisamos saber onde termina o sonho e começa a realidade. Vou transcrever uma historinha – que meu marido sempre conta – que ilustra bem o que eu estou querendo dizer.
mas precisamos saber onde termina o sonho e começa a realidade. Vou transcrever uma historinha – que meu marido sempre conta – que ilustra bem o que eu estou querendo dizer.
"Certo dia, ao entardecer, uma
camponesa chegava à sua choupana. Ao abrir a porta e acender uma lamparina
percebeu, na penumbra, em um dos cantos algo diferente e estranho. Eletrizada
pelo pavor, saiu rapidamente, gritando:
– Socorro, uma grande cobra, me
ajudem!
Os vizinhos rapidamente acorreram ao
chamado. Vieram armados com paus para enfrentar a grande serpente. Agitados,
formaram um grupo diante da choupana, mas ninguém se atrevia a entrar. Chegou,
então, o marido da apavorada camponesa. Pelo grande alarido, pensou no pior.
Informado dos fatos pela esposa, muniu-se de uma grande tocha acesa e entrou na
casa, apesar das advertências dos amigos.
A expectativa era grande, diante do
silêncio dentro da casa. Surge o homem na porta arrastando algo. Todos recuam e
ele atira diante deles um grande e grosso pedaço de corda.
– Eis a grande “serpente”: a corda
que comprei hoje à tarde para o meu serviço."
Quantas serpentes nos atemorizam a
vida, por falta de coragem para nos libertarmos de pesadelos. Enquanto a
verdade não aparece, a ilusão do pesadelo parece “realidade”. Ambas não
permanecem juntas, são como a sombra e a luz. Quando esta surge, aquela desaparece.
Uma mentira, por mais fantástica que seja e por maior número de pessoas que
acreditem, não tem auto-sustentação e desmorona diante da realidade que é
auto-sustentável, não necessitando de crédito ou descrédito.
A “corda” da nossa história continuou
sendo corda, mesmo quando a imaginação da camponesa via uma serpente e
convencia os vizinhos disso. A ilusão necessita ser alimentada para parecer
realidade. A mentira também precisa de muita astúcia e empenho para continuar
até que surja algo verdadeiro e comprovado para destruir a farsa. Aqui cabe uma
pergunta: "Em que nos empenhamos em nossa vida, em nosso
dia-a-dia?Alimentamos inverdades por comodismo ou interesses escusos ou temos a
ousadia de contrariar a maioria, expondo os fatos como são?"
Já disse Alguém, hoje pouco
lembrado: “Conhecereis a Verdade e ela vos libertará.” Queremos realmente esta
liberdade? Ou deixaremos a mentira e os mentirosos nos usarem para seus fins
inconfessáveis? Teremos a humildade para compartilharmos nossas pequenas
verdades em busca de Algo Maior? Ou nosso orgulho e egoísmo continuarão
alimentando cobras, serpentes, carcarás e outras aberrações? Todos os dias nos
vemos cercados de mentiras, de ilusões, de falsidade. Quantos de nós se
refugiam em seus castelos imaginários? Quantos de nós mentem tanto que acabam
acreditando em suas próprias mentiras?
Não deixe de sonhar, mas recuse-se
terminantemente a acreditar nos pesadelos e nas mentiras. Não crie em torno de
si mesmo uma teia de ilusão pois você pode se tornar uma presa dessa própria
teia.
Texto de Cecy Kirchner
Foto Ilustrativa
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