quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

A Caverna de Platão


     Havia uma grande caverna, onde a luz do sol entrava por uma única abertura e projetava em suas paredes uma infinidade de reflexos multicoloridos. Nela vivia um povo com seus afazeres rotineiros e limitado por seus sentidos adequados pelas circunstâncias do local e pela identificação com os reflexos, nos quais interferia pela atividade que produzia. Ninguém se preocupava com a causa daqueles fenômenos: o sol filtrado pela pequena abertura no topo da caverna.

     De tempos em tempos, alguns se aventuravam a sair daquele mundo, contrariando a totalidade dos moradores e arriscando-se por caminhos íngremes que conduziam à estreita passagem.

     Quando algum intrépido peregrino atravessava a estreita passagem, era ofuscado pela luz direta, inebriado pelo esplendor de paisagens nunca vistas. E uma grande transformação acontecia. Os ares puros, águas cristalinas, terras férteis, alimentos renovadores temperavam seu corpo para suportar uma nova dimensão de existência.

     Com o tempo de aprendizado, manejava energias e elementos antes desconhecidos e recordava o povo que ficara para trás. E, num ato heróico, voltava ao mundo subterrâneo onde poucos se recordavam dele. Ele se tornara um estranho entre sua própria raça. Falava de um mundo novo, de uma luz imensa, onde todos se aceitavam como irmãos, sem guerras, sem fome e sem doenças. Tudo era compartilhado e ninguém desejava além do necessário. Alguns poucos o entenderam e a eles foi ensinado o caminho para a luz, passando pela “porta estreita” para a libertação dos reflexos multicoloridos e enganosos.

     Entre os escolhidos, alguns chegaram àquele reino da Luz e hoje são reverenciados como Mestres.

     São convergentes seus ensinamentos e apontam para a mesma direção. E também são unânimes quando alertam sobre os grilhões que nos prendem à rocha da Caverna – bloqueios humanos, resistência ao conhecimento, apegos egocêntricos a “verdades individuais”, valorização do competir pela rejeição do compartilhar, sobreposição das divergências conflitantes em prejuízo das convergências que unem e libertam.

     Como quebrar esse círculo vicioso que envolve a humanidade no redemoinho do materialismo? Podemos fortalecer o círculo virtuoso desde que aqueles que detenham os conhecimentos libertadores não se omitam, não só  fiquem à porta e não entrem e não deixem ninguém entrar, desde que tenham a humildade para compartilhar e deixar de competir como “donos da verdade”, desde que valorizem ensinamentos de convergências que apontam para a saída e deixem de fortalecer as divergências particulares.

     Em que você investe? Alimenta e fortalece o círculo vicioso que não vê uma saída? Aumenta a competição egoísta em prejuízo do compartilhar fraterno? Fortalece as divergências conflitantes ou as convergências de união e cooperação?

 Seja coerente e responsável. Sua escolha é “livre”, mas o resultado é a sua própria vida.
Texto de Iran Waldir Kirchner
Foto Ilustrativa

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