sexta-feira, 14 de março de 2014

Prece e Devoção (Parte IV)


Prece na Devoção


A prece analisa sob o ângulo da Devoção tem um sentido todo especial e diferente.

      Existem preces para uma variedade de ocasiões e todas têm um leve toque de Devoção, mesmo quando são lidas ou decoradas. Muitas preces ou orações são usadas como um modo de prender a mente num mesmo ponto pela repetição contínua e automática. Algumas são usadas para outras circunstâncias e cada uma tem sua validade, sem a menor dúvida.

     Mateus, no capítulo 6 de seu evangelho diz: “Tu, porém, quando orares, entra no teu quarto e, fechada a porta, ora a teu Pai que está em secreto; e teu Pai que vê em secreto, te retribuirá” (versículo 6). O evangelista não quis dizer que temos que nos trancar num quarto físico, mas sim que nos voltemos para dentro de nós mesmos, fechando os sentidos externos, para contatar a Divindade interior.

      Mas, quanto à Devoção é bem diferente por um simples fato: não existe o pedido de coisa alguma, pois é uma manifestação de alegria de quem tem tudo e sente-se radiante de entusiasmo pelo fato. Não existe nada decorado ou escrito, pois as palavras se desprendem espontaneamente, sem esforço ou pensamentos; não há uma maneira especial de comportamento pré-determinado; a exaltação é tão grande que as barreiras convencionais desaparecem; pode ocorrer choro com lágrimas de alegria e felicidade ou risos e cânticos de louvor, ou ainda pode-se dançar como criancinhas que brincam de roda e gritam de contentamento; pode haver pulos, corridas e rodopios.

      Isso pode parecer extravagante aos costumes ocidentais conservadores, mas no Oriente não existem preconceitos nesse particular.

      Conclui-se que a prece, na Devoção, é uma consequência espontânea do estado de Devoção; é um efeito e não a causa.

      A Devoção é, em si mesma, independente das manifestações que pode provocar pois estas variam segundo a natureza do devoto.

      Não se pode também avaliar a Devoção pelas manifestações externas, pois acontece geralmente que nada fora do comum é percebido no exterior do devoto, mas ele pode se achar em estado de Devoção interior e atingir o êxtase espiritual, chamado pelos orientais de SAMADY, que é um estado supranormal da consciência, sem que demonstre isso externamente.
Texto de Iran Waldir Kirchner
Foto Ilustrativa

 

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