quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Sua palavra: Uma bênção ou maldição!

     
Um rei procurava um chefe de cozinha para o seu palácio. Propôs aos candidatos ao cargo um teste bem direto: que cada um preparasse uma refeição, a melhor que soubesse fazer. Todos foram consultar seus arquivos de receitas culinárias para escolher os mais sofisticados pratos.

Quando terminaram suas obras-primas culinárias, o rei começou a examinar cada uma com muita atenção. Eram as mais exóticas e complexas já vistas, tanto pelos ingredientes quanto pelos detalhes dos arranjos em cada prato.
Entre todas as iguarias, uma delas chamou sua atenção: todos os pratos que compunham a refeição tinham um ingrediente muito comum: língua. Língua preparada de todos os modos possíveis. 

O rei, então, chamou o chefe de cozinha que preparou aquela refeição e perguntou: por que você usou língua em todos os pratos, já que coloquei à disposição muitos outros ingredientes bem mais nobres da minha despensa real?
     Respondeu o chefe:
     – Majestade, não se ofenda, encontrei muitos produtos à minha disposição, mas a língua é o mais precioso de todos. Eu explico: o que seria das canções maravilhosas do mundo, se não existisse a língua para cantá-las. Nem os belos poemas e versos seriam pronunciados. As juras de amor e devoção não existiriam. Majestade, nem as pessoas poderiam se comunicar, a educação não existiria e o conhecimento dos povos não cresceria.

     O rei, muito impressionado pela explicação tão sincera, autêntica e sábia do chefe, propôs um novo teste culinário. Disse:
     – Todos fizeram os melhores pratos possíveis com os melhores ingredientes. Mas agora eu quero que todos façam as mais simples e comuns refeições, as piores possíveis.

     Todos os chefes candidatos à cozinha real se lançaram ao trabalho e, em pouco tempo, apresentaram as refeições mais simples e comuns do mundo, com bem poucos pratos, os piores no conceito do rei. Qual a sua surpresa quando observou os pratos daquele dito chefe. Havia poucos pratos sim, mas todos eles traziam o mesmo ingrediente: língua. O rei, muito confuso, foi logo perguntando:
     – Você usou o mesmo ingrediente, tanto no primeiro teste quanto no segundo – língua. Exijo uma boa explicação.
     – É muito simples, majestade, disse o chefe. As maiores ofensas e intrigas começam pela língua. Os maiores romances e casamentos acabam por palavras ríspidas e grosseiras pronunciadas pela língua. Os desentendimentos entre os povos, por preconceitos e discriminações começam pelo uso de palavras as piores possíveis e é a língua é o veículo das intrigas entre as nações. Portanto, majestade, com todo o respeito, a língua é o pior dos pratos.

     O rei ficou pasmo com tanta sabedoria daquele simples chefe de cozinha e o contratou no mesmo instante como conselheiro real.

     A palavra foi dada ao ser humano como uma dádiva divina, para o seu relacionamento no progresso e evolução material e espiritual. Sendo um talento de Deus, somos responsáveis pela sua aplicação em bons propósitos. As conseqüências são desastrosas se não formos competentes no uso dessa ferramenta poderosa. O verbo tem o poder criativo ou destrutivo. Muitos de nós sentimos esse efeito na própria pele. Um elogio, uma palavra de carinho, uma bênção, nos renova as forças e o ânimo. Um grito, uma crítica mordaz, um xingamento, nos desequilibra mental, emocional e fisicamente. Diz um ensinamento antigo: “Não veja o mal, não pense no mal e não faça o mal”. E também: “Não pronuncieis para teu irmão nem a palavra racca (tolo)”.

     As sagradas escrituras têm muitas referências ao mau uso da língua.
Tiago (3, 1-12) fala sobre a guarda da língua. Jesus ensinava que o que contamina o homem é o que sai de sua boca, pelo mau uso da língua, pois isso sai do seu coração.

     Uma taça transborda só aquilo que tem em seu interior, seja mel ou fel.
O silêncio é ouro e o falar é prata. É no silêncio que podemos observar com a máxima atenção, desenvolver o raciocínio, a análise e a compreensão. A verborragia humana tornou-se viciosa, o falar sem conteúdo, apenas para fazer ruído. Ser prolixo não é uma virtude, mas um vício desgastante e perigoso pois quem fala tudo o que quer e tudo o que sabe, pode ouvir o que não quer e falar aquilo que não sabe.

Texto de Iran Waldir Kirchner
Foto Ilustrativa  


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