Um rei procurava um chefe de cozinha
para o seu palácio. Propôs aos candidatos ao cargo um teste bem direto: que
cada um preparasse uma refeição, a melhor que soubesse fazer. Todos foram
consultar seus arquivos de receitas culinárias para escolher os mais
sofisticados pratos.
Quando terminaram suas obras-primas
culinárias, o rei começou a examinar cada uma com muita atenção. Eram as mais
exóticas e complexas já vistas, tanto pelos ingredientes quanto pelos
detalhes dos arranjos em cada prato.
Entre todas as iguarias, uma delas chamou sua atenção: todos os pratos que compunham a refeição tinham um ingrediente muito comum: língua. Língua preparada de todos os modos possíveis.
Entre todas as iguarias, uma delas chamou sua atenção: todos os pratos que compunham a refeição tinham um ingrediente muito comum: língua. Língua preparada de todos os modos possíveis.
O rei,
então, chamou o chefe de cozinha que preparou aquela refeição e perguntou: por
que você usou língua em todos os pratos, já que coloquei à disposição muitos
outros ingredientes bem mais nobres da minha despensa real?
Respondeu o chefe:
– Majestade, não se ofenda, encontrei
muitos produtos à minha disposição, mas a língua é o mais precioso de todos. Eu
explico: o que seria das canções maravilhosas do mundo, se não existisse a
língua para cantá-las. Nem os belos poemas e versos seriam pronunciados. As
juras de amor e devoção não existiriam. Majestade, nem as pessoas poderiam se
comunicar, a educação não existiria e o conhecimento dos povos não cresceria.
O rei, muito impressionado pela explicação
tão sincera, autêntica e sábia do chefe, propôs um novo teste culinário. Disse:
– Todos fizeram os melhores pratos
possíveis com os melhores ingredientes. Mas agora eu quero que todos façam as
mais simples e comuns refeições, as piores possíveis.
Todos os chefes candidatos
à cozinha real se lançaram ao trabalho e, em pouco tempo, apresentaram as
refeições mais simples e comuns do mundo, com bem poucos pratos, os piores no
conceito do rei. Qual a sua surpresa quando observou os pratos daquele dito
chefe. Havia poucos pratos sim, mas todos eles traziam o mesmo ingrediente:
língua. O rei, muito confuso, foi logo perguntando:
– Você usou o mesmo ingrediente, tanto
no primeiro teste quanto no segundo – língua. Exijo uma boa explicação.
– É muito simples, majestade, disse o
chefe. As maiores ofensas e intrigas começam pela língua. Os maiores romances e
casamentos acabam por palavras ríspidas e grosseiras pronunciadas pela língua.
Os desentendimentos entre os povos, por preconceitos e discriminações começam
pelo uso de palavras as piores possíveis e é a língua é o veículo das intrigas
entre as nações. Portanto, majestade, com todo o respeito, a língua é o pior
dos pratos.
O rei ficou pasmo com tanta sabedoria
daquele simples chefe de cozinha e o contratou no mesmo instante como
conselheiro real.
A palavra foi dada ao ser humano como
uma dádiva divina, para o seu relacionamento no progresso e evolução material e
espiritual. Sendo um talento de Deus, somos responsáveis pela sua aplicação em
bons propósitos. As conseqüências são desastrosas se não formos competentes no
uso dessa ferramenta poderosa. O verbo tem o poder criativo ou destrutivo.
Muitos de nós sentimos esse efeito na própria pele. Um elogio, uma palavra de
carinho, uma bênção, nos renova as forças e o ânimo. Um grito, uma crítica
mordaz, um xingamento, nos desequilibra mental, emocional e fisicamente. Diz um
ensinamento antigo: “Não veja o mal, não pense no mal e não faça o mal”. E
também: “Não pronuncieis para teu irmão nem a palavra racca (tolo)”.
As sagradas escrituras têm muitas
referências ao mau uso da língua.
Tiago (3, 1-12) fala sobre a guarda da
língua. Jesus ensinava que o que contamina o homem é o que sai de sua
boca, pelo mau uso da língua, pois isso sai do seu coração.
Uma taça transborda só aquilo que
tem em seu interior, seja mel ou fel.
O silêncio é ouro e o falar
é prata. É no silêncio que podemos observar com a máxima atenção,
desenvolver o raciocínio, a análise e a compreensão. A verborragia humana
tornou-se viciosa, o falar sem conteúdo, apenas para fazer ruído. Ser prolixo
não é uma virtude, mas um vício desgastante e perigoso pois quem fala tudo o
que quer e tudo o que sabe, pode ouvir o que não quer e falar aquilo que não
sabe.
Texto de Iran Waldir Kirchner
Foto Ilustrativa
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