terça-feira, 20 de novembro de 2012

Higiene Mental – Parte II


O lixo físico é perigoso quando fora de controle, pois se espalha e contamina. Mas a craca mental e emocional do ser humano é muito mais perigosa, pois são resíduos de energias vivas e ainda invisíveis e impalpáveis. Formam uma crosta compacta que envolve a criatura sem autovigilância, asfixiando e sugando suas energias vitais. A lucidez e o discernimento ficam precários, os sentidos confusos, a vontade positiva vacila, os valores e os ideais são esquecidos. Com isso, desaparecem a convicção, a fé, o idealismo e a coragem e, como conseqüência, o medo é uma companhia constante, onde dominam o medo e o terror, o amor enfraquece, e sem amor, sobressai o rancor e a revolta.

      É nossa mente que centraliza e processa as informações para o nosso consciente, sua participação eficiente é vital para a real percepção da vida, para o relacionamento externo e interno, aprendendo a conviver, melhorando o convívio. Damos importância a uma janela suja, pois a sujeira impede a visão real do que se passa lá fora. Por isso, temos o hábito de limpá-la periodicamente. Mas, quando a vida, vista pela janela de nossa mente, parece confusa, cinzenta, sem sentido, ficamos de mal com a vida e conosco mesmos. Não procuramos a razão disso e afundamos na “fossa mental-emocional” que deixamos crescer em nós mesmos.
 
E isso se torna uma rotina, um hábito que aceitamos até como “normal”. Mas será mesmo a Vida assim, apenas por que a vemos assim? A grande maioria consola a si mesma dizendo que sempre foi e sempre será assim! Esta “sábia” maioria de pessoas interessa-se realmente por si própria? A limpeza das janelas, dos assoalhos e da casa toda é mais importante que a própria criatura? Seria nossa pele, nossa aparência, superior ao que está dentro de nós? Ou talvez, apenas nosso corpo físico, concreto, seja importante, bastando ter uma boa aparência, e tudo o mais não conta? O equilíbrio físico, emocional e mental é secundário? A harmonia e a felicidade da criatura consigo mesma não é fundamental? São estas propriedades que só uma mente em ordem pode discernir.  

      Vamos tentar analisar as causas que produzem situações deploráveis no ser humano, que o levam a inverter certos valores básicos de viver. A acomodação passiva ao menor esforço é a primeira e a principal, pois enfraquece a ação positiva para uma melhor condição. É muito fácil e rápido melhorar a aparência física pois isso já é um hábito adquirido. Não é fácil e nem rápido melhorar-se o estado mental-emocional, pois é preciso aprender e praticar para que se torne, depois, um costume habitual. Para aprender é necessário observar, para conhecer. É cômodo e fácil observar de nós para fora, mas para observar o observador, a nós próprios, em nós mesmos, é necessário atenção, prática e paciência.
 
Esta é a segunda grande origem dos problemas: a falta de observação de si mesmo – particular e individual – conhecer-se melhor por dentro – é cômodo e fácil conhecer-se por fora, todos nos ajudam para isso, pois também têm o hábito de olhar apenas para fora. Mas, para auto-observar-se, somos só nós conosco mesmos. Se pedirmos ajuda, a maioria dirá: “Só sei olhar para fora”, ou “Para que olhar para dentro, se fora existem coisas mais interessantes para ver?” E assim, a ordem dos valores permanece invertida – o observador é menos importante e menos interessante que as coisas exteriores observadas.
 
E, baseada nesses fatos, nessas circunstâncias, tirando proveito da situação, surge a terceira causa da miséria humana interior: a falsa propaganda do consumismo insaciável – a criatura é condicionada a pensar, sentir e agir de acordo com o que come, bebe, fuma, veste, etc. Transforma-se em um boneco sem autodeterminação, passivo, omisso, um objeto manipulado por interesses contrários aos verdadeiros valores humanos.

Texto de Iran Waldir Kirchner
Foto Ilustrativa

Um comentário:

  1. Quando não usamos um "filtro" para o excesso de informação e nos tornamos meras "caixas de ressonancia" do que nos é empurrado a cada dia fica muito dificil olhar para dentro de si, pois nada veremos. Estaremos nos esvaziando de nós mesmos e projetando o que nos é(e permitimos)injetado, imposto e cobrado por um febre consumista q vivemos atualmente e lamentavelmente....

    ResponderExcluir